A poesia como diferencial para a produção de publicidade

A Semana

Os gêneros literários reúnem um conjunto de obras que apresentam características análogas de forma e conteúdo. Essa classificação pode ser feita de acordo com critérios semânticos, sintáticos, fonológicos, formais, contextuais, entre outros. Eles se dividem em três categorias básicas: gêneros épico, lírico e dramático. Vale salientar também que, atualmente, os textos literários são organizados em três gêneros: narrativo, lírico e dramático.

O gênero literário lírico buscam expressar os sentimentos e emoções mais íntimos e, portanto, procuram transcender a condição meramente material das pessoas.

A poesia, uma das possíveis formas do gênero lírico, é caracterizada pela composição harmoniosa dos versos. Em um sentido figurado, podemos considerar que a poesia é tudo aquilo que comove, que sensibiliza e desperta sentimentos. É qualquer forma de arte que inspira e encanta, que é sublime e bela.

“Quer se manifeste nas artes plásticas, na música ou na literatura, para o indivíduo cético e materialista da era tecnológica só a poesia é capaz de proporcionar as indescritíveis epifanias até há pouco exclusiva do fenômeno religioso” (OLIVEIRA, 2008, p.45).

Na comunicação publicitária o apelo por resultados práticos (mais vendas) muitas vezes impede que a utilização de uma linguagem poética, havendo preferência por uma linguagem racional e direta. Mas, a linguagem poética pode representar um diferencial muito significativo na percepção dos consumidores a respeito de um produto, serviço ou marca. “Certamente porque, com a espetacularização do cotidiano na sociedade de consumo contemporânea, a publicidade obtenha maior ressonância junto ao público quando se vale desse típico de lírica” (CARRASCOZA, 2014, p. 117).

Um exemplo muito bem sucedido de utilização de uma linguagem poética foi o comercial “A Semana” da revista Época criado em 2000 pela agência W/Brasil. Foi a primeira e única vez que um país de língua não inglesa recebeu o prêmio Grand Clio. Esse foi um comercial que o texto foi é capaz de transcender um assunto cotidiano banal (a semana) em poesia. “O texto sofisticado da peça eletrônica impressionou a audiência, soando como proposta de oxigenação aos padrões verbais vigentes no momento, já um tanto requentados” (NEGRI, 2011, pág. 19).

Para um preso, menos sete dias.

Para um doente, mais sete dias.

Para os felizes, sete motivos.

Para os tristes, sete remédios.

Para os ricos, sete jantares.

Para os pobres, sete fomes.

Para a esperança, sete novas manhãs.

Para a insônia, sete longas noites.

Para os sozinhos, sete chances.

Para os ausentes, sete culpas.

Para um cachorro, quarenta e noves dias.

Para uma mosca, sete gerações.

Para os empresários, 25% do mês.

Para os economistas, 0,01% do ano.

Para os pessimistas, sete riscos.

Para os otimistas, sete oportunidades.

Para a Terra, sete voltas.

Para o pescador, sete partidas.

Para cumprir o prazo, pouco.

Para criar o mundo, o suficiente.

Para uma gripe, a cura.

Para uma rosa, a morte.

Para a História, nada.

Para a Época, tudo.

Época, Todas as semanas.

 

Referências

NEGRI, Marina Aparecida Espinosa. Contribuições da língua portuguesa para a redação publicitária. São Paulo: Cengage Learning, 2011.

CARRASCOZA, João Anzanello. Estratégias criativas da publicidade: consumo e narrativa publicitária. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2014.

OLIVEIRA, Nelson de. A oficina do escrito: sobre ler, escrever e publicar. Cotia: Ateliê Editorial, 2009.